Professor vítima de bullying em sala de aula reflete sobre violência: ‘É destrutivo’

Professor vítima de bullying em sala de aula reflete sobre violência: ‘É destrutivo’

O Encontro desta quarta, 10/4, abordou a violência sofrida por educadores. Fátima Bernardes recebeu Erlison Macedo, professor de matemática que nasceu com atrofia nos braços. Mesmo quando criança, ele não tinha sido vítima de bullying. Mas, após adulto, foi alvo de piada dos alunos da escola em que ministrava aulas em Santarém, no Pará.

“Por incrível que pareça, sempre vivi de boa com meus amigos. Sempre tive uma vida normal até nas últimas semanas.”


Tudo começou durante um dia de chuva, em que o professor chegou na sala de aula molhado.

“Começaram os risos. Naquele momento, pensei que fosse por causa da roupa molhada. Mas as piadas continuaram no dia seguinte, e, no outro, também… percebi que tinha algo errado. Chamei atenção deles, mas nada adiantou. Falei com a direção e contei toda a situação para ela.”

Depois de tantas risadas durante dias, o professor descobriu que as gargalhadas foram sobre a deficiência dele.

“É destrutivo você estar na sala explicando, virar de costas, e o riso começar. Na hora ainda não tinha comprovação que era por causa da minha deficiência, mas, depois que passei uma atividade em grupo, vi um rapaz encurtando o braço e ali percebi que era em relação à deficiência.”

Depois da violência sofrida, Erlison contou que ficou muito mal e que nem conseguia se alimentar pensando no que tinha acontecido com ele.

“É uma situação muito difícil. Nunca tinha passado por isso em nenhum momento. Fiquei mal. Fui pra casa, fiquei transtornado, não consegui dormir, nem alimentar. O pior de tudo é que a gente guarda para si. Só quem sabia dessa história era a diretora da escola e minha mulher.”

O bullying abalou tanto o professor que ele relutou em voltar à classe. Foi então que decidiu pedir mudança do seu local de trabalho.

“Sempre fui uma pessoa feliz. A gente que é professor tem que passar mensagem positiva, pois a educação ainda é a melhor saída. Mas só que eu estava morto, não sentia mais com vontade de entrar na turma. Eles não têm noção do que fizeram. Os pais me pediram desculpas, mas nunca vou esquecer. Pedi para trocar de classe. Não sou covarde, nem coitado. Eu ralei para ser professor de matemática.”

Mesmo perdoando seus alunos, Erlison decidiu denunciar o caso para a Polícia.

“Fiz o boletim de ocorrência para ficar registrado o caso, e não para a polícia punir os alunos. O bullying é algo muito além. O ruim de tudo é que as pessoas não tem coragem de denunciar. Fiquei assustado e aquilo estava me destruindo. A partir do momento que contei para todos, me senti liberto. Tem que denunciar! Somos diferentes sim, o ser humano tem atitudes e pensamentos diferentes, e merecemos ser respeitados por isso.”

Fonte: GSHOW
Foto: Sonia Schneiders/Gshow