Irmã cita último papo com candidato que morreu e foi reeleito

A última conversa do prefeito de Passa Quatro (MG), Antônio Claret Mota Esteves (PV), morto na véspera das eleições deste domingo (15) em decorrência de um infarto, ainda ecoa na memória de sua irmã Maria Rita, bem como o resultado do pleito – que confirmou sua reeleição apesar do ocorrido “Rita, o que eu fiz? Eu cuidei do coração de Passa Quatro e esqueci do meu”, disse Claret em breve conversa com a irmã dias antes de sua morte. Na ocasião, ele estava internado no Hospital Regional de Varginha, cidade vizinha, onde ficou por cerca de duas semanas.

“A situação do meu irmão já era bem grave, ele tinha raros momentos de lucidez. Depois dessa conversa, não consegui mais falar com ele. Essa é a última lembrança que tenho”, afirmou Maria Rita.

Claret começou a apresentar sintomas ainda em setembro. No dia 7 de outubro, ele infartou e precisou ser transferido a Varginha, para ser submetido a um cateterismo, exame de invasivo que verifica a saturação do oxigênio. O prefeito teve alta no dia 16, mas foi novamente encaminhado ao hospital ao sentir dores agudas. Ele ficou internado desde 24 de outubro.

O quadro de Claret se agravou e, no último sábado (14), ele não resistiu. Apesar de sua morte, o prefeito acabou reeleito com 60,8% dos votos – o equivalente a 5.638 eleitores. Mais do que simbólico, para a família, foi um gesto de reconhecimento por mais de três décadas dedicadas à vida pública.

“O resultado foi a maior homenagem que ele poderia receber. As pesquisas já apontavam que ele venceria, mas foi mais merecido ainda, muito gratificante esse reconhecimento pelo trabalho dele. Isso mostra que a vida que meu irmão teve foi muito bonita”, disse sua outra irmã Maria do Carmo.

Aos 28 anos, em 1986, Claret se tornou o prefeito mais novo da história do pequeno município de pouco mais de 16 mil habitantes. Desde então, ele teve duas passagens pelo cargo, além de ter sido vereador, presidente da Câmara e vice-prefeito.

Solteiro e sem filhos, Claret optou por levar adiante o histórico familiar na política. Seu pai, que morreu há menos de três ao completar 98 anos, e um de seus 11 irmãos já haviam exercido mandatos na Prefeitura e na Câmara Municipal.

O velório em um quadra poliesportiva de Passa Quatro foi marcado pela comoção. Mesmo aqueles que não eram seus eleitores compareciam ao local para prestar solideriedade à família. As flores se esgotaram diante da demanda como mostra de carinho. Em meio à pandemia, foi difícil até conter o afeto das pessoas que queriam abraçar e cumprimentar.

“A praça principal ficou repleta de gente nos esperando, chorando, fizeram até uma carreata. Quem não estava presente foi para a janela de casa. O telefone toca o dia inteiro. Isso que está sustentando a gente. Foi uma emoção jamais vivida por nós”, disse Maria Rita.

O corpo de Claret foi recepcionado na Câmara ao som da banda municipal após a chamada “Carreata da Gratidão”, como ficou conhecida. Mais de 250 carros participaram.

O Partido Verde (PV) solicitou a substituição do candidato antes do início das eleições, mas as urnas já estavam lacradas. A Justiça Eleitoral vai avaliar o pedido para que Henrique Nogueira Gonçalves, atual vice-prefeito, componha a chapa no lugar de Claret e ao lado de Marcos Torres.

A legislação permite a troca após o prazo, que é de 20 dias antes do pleito, em caso de morte. Se o juiz indeferir, os votos serão anulados.