Dos gramados às telas: Flamengo eSports

Os boatos começaram há bastante tempo, quando o Vice-Presidente de Marketing do Clube de Regatas do Flamengo, Daniel Orlean, sondou pela primeira vez qual seria a recepção da torcida se o time entrasse no mundo dos Esports. Passaram alguns meses até que o projeto fosse finalmente anunciado de fato. A criação da página do Facebook “Flamengo eSports” está datada em 20/10/2017, o que só serviu para aumentar uma expectativa que já era gigante: extremamente passionais, os flamenguistas esperavam nomes que honrassem seu manto sagrado. Com Jisu, SirT, Evrot, brTT, esA e MiT, é uma aposta segura falar que eles não foram desapontados. Com a estrutura montada e com a escalação que irá usufruir dela, qualquer resultado que não seja o título do Circuito Desafiante será uma grande – e negativa – surpresa.

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O primeiro nome anunciado foi o do MiT, contratado para ser treinador da equipe. Então vieram SirT, esA, Evrot, brTT e, finalmente, Jisu. É uma escalação fortíssima, a mais poderosa que já passou pelo Circuito Desafiante, mesmo se considerarmos que a Team One veio daqui e foi campeã do CBLoL, e a força que ProGaming e KaBuM têm demonstrado. O Flamengo anima ainda mais que essas equipes.

Topo: Park “Jisu” Jincheol

O Topo sul-coreano é um jogador muito habilidoso mecanicamente. Chegou até as semifinais do campeonato de x1 do All-Star 2017. Deixou pelo caminho PowerOfEvil e Meiko, sendo derrotado por Bjergsen. Teve uma passagem pelo League of Legends europeu, inicialmente na Misfits Academy, posteriormente sendo transferido para a Mysterious Monkeys junto com todo o elenco. Mas foi no LoL tailandês que ele realmente ganhou notoriedade internacional, pois em 2017 foi selecionado para representar a LMS no All-Star. Sua passagem pela Europa é excelente para o Flamengo: mesmo que seja pouca, ele tem alguma experiência em se comunicar em inglês. Dizem que a rota do topo é uma das mais difíceis para se encontrar novos talentos no Brasil. Logo, a expectativa sobre o Topo é altíssima. Ele precisa fazer valer a importação de um jogador estrangeiro.

Caçador: Thúlio “SirT” Carlos

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O Caçador ajudou a criar o cenário brasileiro. Antes visto como eterna dupla de Kami, SirT chocou o país ao sair da paiN Gaming para jogar na Big Gods Jackals, na Challenger Series norte-americana. Seu resultado foi mediano nos Estados Unidos: conseguiu apenas a quarta colocação, fora da zona de classificação para disputar a vaga da LCS. Seu retorno ao Brasil cria bastante expectativa, suscitando perguntas como “quão forte Thúlio estará, se comparado aos nossos Caçadores de hoje?” ou “quanto pesa sua experiência nos Estados Unidos?” Um ponto fortíssimo que ele tem a seu favor, sobretudo considerando sua equipe, é o seu estilo de jogo. Ele não costuma ser o cara que vai puxar a responsabilidade e ser um dos carregadores principais. Em vez disso, é muito bom em habilitar seu time para cumprir essa função.

Meio: Danniel “Evrot” Franco

O Meio talvez seja um dos jogadores que menos chama atenção nesse elenco, mas se ilude quem acha que Evrot irá viver à sombra dos grandes astros. Ele está acostumado a jogar com muitos recursos, sendo a principal referência de suas equipes anteriores. É muito habilidoso e geralmente converte o que é investido nele em vantagens importantes dentro de jogo. Fez parte da escalação do Remo Brave que subiu invicta do Circuitão ao CBLoL (16 vitórias em 16 jogos), e apesar de não vencer muitas partidas na elite brasileira, os bons resultados da Brave eram marcados por boas atuações do Evrot. O Meio certamente tem bastante a aprender com seus companheiros, mas vejo nele um alto teto de evolução. Aposto que ainda ouviremos falar bastante seu nome.

Atirador: Felipe “brTT” Gonçalves

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É como dizem por aí: “o pai tá chato”. Ame ou odeie, é impossível negar que o brTT é um dos maiores jogadores do país. Ele coleciona títulos (CBLoL 2013 e Segunda Etapa 2015, pela paiN, e Primeira Etapa 2017, pela Red) e arrasta uma legião de fãs para onde quer que vá. Além da mecânica apuradíssima enquanto Atirador, um dos pontos mais fortes de se ter o brTT na equipe – qualquer que seja – é seu talento natural para liderar. Bastante emotivo, é o tipo de cara que vai bater no peito, gritar e elevar o moral do time no momento decisivo. Isso pode ser justamente o diferencial entre uma vitória e uma derrota. É o que separa os grandes dos maiores.

Suporte: Eidi “esA” Yanagimachi

Ele se reinventou como jogador no ano passado, quando a Keyd passava por um momento delicadíssimo. Atirador de formação, assumiu a posição de Suporte para substituir Ziriguidun, à época bastante apagado. EsA fez dupla com Juzinho e os resultados foram surpreendentes: ele era bom como Suporte. O que joga contra é sua pouca experiência na função, mas os meses que teve de treino antes do início do Circuito podem ser o bastante para que chegue mais do que preparado.

Técnico: Gabriel “MiT” Souza

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O técnico tem renome e experiência, presente no cenário desde seus primórdios. Ex-jogador, foi do lado de fora do Rift que ele se consagrou de verdade, comandando a paiN durante o título de 2015. MiT se afastou da posição de técnico brevemente em 2017, focando em estudar e aprofundar seus conhecimentos. Sua volta se faz em grande estilo, com o desafio de liderar o Flamengo e organizar esse elenco fortíssimo. Além de suas qualidades enquanto técnico, o fato de já ter trabalhado com brTT e SirT faz com que ele pareça ser o homem ideal para a função.

Opinião: Esse elenco no geral é muito bom. Mesmo. Vejo poucos pontos para amarrar: a comunicação com o Jisu, e junto a isso tem toda a problemática da adaptação a um novo país e a uma nova cultura. Há também a questão da distribuição de recursos entre brTT e Evrot, pois os dois gostam bastante de ser a principal referência e precisarão dividir essa função, e finalizando, temos a pouca experiência de esA como Suporte. Se todos esses problemas forem resolvidos, ou mesmo somente amenizados, não vejo motivos para que o Flamengo não seja o campeão do Circuito Desafiante, pois além dos nomes de projeção internacional, o modelo de trabalho adotado também é bastante promissor.

Gaming Office

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O que temos em todos os grandes times, à exceção do Flamengo, é o sistema de Gaming House (GH). No League of Legends, mais especificamente, ele começou a ser implementado por volta de 2013-2014. As competições, a princípio escassas, se tornaram cada vez mais frequentes. Era necessário manter os jogadores em São Paulo, maior centro urbano do país, pois era ali que o cenário acabaria por se solidificar. O fato de que vários jogadores ainda eram menores de idade provavelmente aumentou a necessidade de que todos morassem juntos, sob responsabilidade direta das equipes.

Com o passar dos anos e com a evolução rápida que a modalidade sofreu, o sistema tornou-se alvo de algumas discussões. Há quem enxergue que o método de Gaming Office (GO) seja mais produtivo, pois permite uma separação mais clara entre o que é vida pessoal e profissional. É o caso do técnico do Flamengo, MiT: “O sistema de GO muda o treinamento. Chegamos por volta das 12h, o tempo da Solo Queue é um pouco reduzido, o pessoal joga geralmente uma antes. São mais ou menos 8h de trabalho, então tentamos focar bastante enquanto treinamos. As vantagens é que dentro do treinamento não temos discussões sobre o timing, é bem otimizado. Quando sentamos pra jogar, falamos sobre o jogo a todo momento, não há perda de tempo: sabemos que estamos ali para treinar. A desvantagem é que por ter menos tempo no geral (na GH as coisas se misturam um pouco), acabam tendo menos jogos.”

Uma questão que surge quase imediatamente quando se pensa no sistema de GH é a convivência entre os jogadores. Mesmo que não sejam frequentes, discussões devem acontecer entre eles. É natural. Além disso, morar no ambiente de trabalho e por consequência nunca “desligar” e relaxar de fato também não deve ser nada fácil.

“A troca de informação acontece mais quando estamos na Gaming Office. Há um reset na mente do jogador: ele vai pra casa, descansa, tem seu próprio limite e não é necessário dividi-lo com ninguém, a não ser que seja uma opção dele. Há mais liberdade. Já na GH, isso acontece até demais,bl deixando as coisas meio caóticas. Por exemplo: pode ser 22h, alguém descobre algo na Solo Queue e já passa a informação imediatamente, sem filtro. A longo prazo, acredito que o sistema de GO seja melhor. ”, compara o técnico.

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Há ainda uma particularidade quando olhamos para o trabalho do técnico com mais atenção. Morar com os jogadores pode acabar confundindo um pouco as coisas, diminuindo a autoridade do coach. Veja bem: não há problema algum em ser amigo das pessoas com quem você trabalha e sobre as quais tem uma posição hierárquica de comando. O problema está apenas quando a amizade e a relação de trabalho têm suas fronteiras enfraquecidas.

“Há uma melhora bem grande, sim. Hoje eu moro com o esA, mas há uma divisão bem clara: temos nossos próprios quartos, nosso espaço é bem delimitado e temos nossas próprias funções na casa.  As coisas acabam não se misturando. Com relação aos outros jogadores, eles irem para casa todos os dias permite que descansem melhor e consigam voltar com a cabeça fresca no dia seguinte, o que é bom para desenvolvermos nosso trabalho. Pro treinador em uma GH, normalmente acaba acontecendo essa mistura, a autoridade fica dispersa. Isso [NR: estar em uma GO] reforça as relações. Mas no LoL tratamos o jogo de uma maneira mais coletiva, menos autoritária”, afirma MiT.

Ainda de acordo com o treinador, o reset de mindset que o sistema de Gaming Office proporciona ajuda até mesmo a direcionar o trabalho dos psicólogos esportivos, tão comuns no League of Legends hoje em dia. Como há menos atrito entre os jogadores, o foco do psicólogo pode ser voltado mais para as questões de jogo e menos para as questões pessoais. MiT não exclui a importância do trabalho do psicólogo, mas enfatiza que o uso que se faz do profissional é diferenciado, mais específico.

Os benefícios de uma Gaming Office também existem de forma indireta, mais sutil: há mais responsabilidades em jogo. No sistema de GH, os jogadores geralmente não precisam realizar tarefas domésticas. Há profissionais cujo trabalho permite que os atletas se dediquem apenas ao jogo. Já no sistema de Gaming Office, cada jogador mora em seu próprio apartamento, precisando cuidar do mesmo. Há uma distinção mais nítida entre o que é a vida profissional e a pessoal.

trio Dos gramados às telas: Flamengo eSports

“Eu não diria que isso é um problema. É o normal da vida de qualquer pessoa, até mesmo atletas de outras modalidades. O que a gente fazia antigamente [GH] que era o fora do padrão. Ter responsabilidades nesse sentido [NR: afazeres domésticos] é bom, ajuda até mesmo dentro de jogo. Os primeiros meses são complicados, precisamos lidar com coisas que não lidávamos antes, mas a partir desse ponto fica normal. O pessoal costuma sair [NR: da casa dos pais] para jogar League of Legends muito novo, quando não tinham responsabilidades. Esse período de adaptação é um choque de realidade que é transferido para dentro do gameplay”, afirma o técnico.

A ideia é bastante promissora, mas só a prática dirá quão eficiente é o sistema de Gaming Office. Podemos estar diante de uma revolução no jeito de se pensar sobre o League of Legends no Brasil, ou pode ser somente uma alternativa ao modelo padrão de GH. Os resultados do Flamengo, não só no Circuito Desafiante, mas principalmente caso o time suba ao CBLoL, provavelmente irão ter um impacto fortíssimo na maneira que se olha para as Gaming Houses e Gaming Offices. O jeito é esperar. Esperar e observar bem atentamente.

 

Estreia

O Flamengo fará sua estreia no Circuito Desafiante no próximo dia 19/02, às 21h, contra a equipe IDM Gaming. Você assiste esse confronto ao vivo nos canais da Promo Arena: Twitch e YouTube.


As imagens desta matéria são cortesia do Flamengo eSports.

Matéria: Lol E-Sports Brasil